Inovar não é novidade. Quando Edmund Cartwright criou primeiro tear mecânico (em 1785), ou Johannes Gutenberg concebeu a prensa de tipos móveis (mais ou menos em 1450), eles estavam inovando. Ou melhor, trilhando rotas de inovação que culminaram com seus inventos. O mesmo podemos dizer de Al-Khwarizm, matemático árabe que fez o primeiro tratado sobre álgebra, por volta do ano 800. Se quisermos ser radicais, a própria pedra lascada foi inovadora em algum momento, assim como toda tecnologia desenvolvida pelo ser humano desde os seus primórdios.
Hoje em dia, a inovação está na moda, e não é só no vocabulário corporativo ou nos laboratórios de tecnologia. As instituições tradicionais e as relações humanas também estão passando por mudanças drásticas, em um impulso de renovação que vem se intensificando, principalmente nos últimos 30 anos.
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Mas isso não quer dizer que tudo vai mudar de uma hora para a outra. Ao contrário, toda transformação acontece a partir de um processo anterior. Se configura aos poucos, como desdobramento lógico do contexto e suas mutações. Portanto, é impossível que ela aconteça sem antes dar indícios da sua chegada. Da mesma maneira, suas consequências podem ser identificadas, sugerindo os contornos do próximo ciclo de inovação. Entender esse ciclo e estar atento aos seus sinais é fundamental para reagir a ele de forma construtiva.
Nada disso é novidade na história da humanidade. A grande diferença dos tempos atuais para os processos de inovação do passado é a velocidade com que eles ocorrem. Uma evidência disso é o número de anos considerado entre uma geração e outra. Se Heráclito, em torno de 400 a.C. propunha um período de 30 anos, atualmente é bem aceita a teoria que divide gerações de 10 em 10 anos. Isso porque as diferenças comportamentais entre pessoas nascidas neste ou naquele período já são significativas o suficiente para classificá-las como dois grupos diferentes.
O ritmo da realidade nos força a ressignificar a relação com o próprio tempo.
É fácil constatar esse efeito em nossa própria vida. Qualquer pessoa que já tenha atingido a maioridade é capaz de apontar alguma coisa que era impensável a 10 anos atrás e hoje já é trivial. O pen drive é um exemplo claro disso. Chegou ao mercado em 2000, como um dispositivo inovador capaz de armazenar até 8 megabytes (mais do que o dobro do seu antecessor, o disquete), e atualmente é vendido como chaveiro em bancas de jornal, com capacidade de 8 gigabytes ou mais. Ao que tudo indica, depois de quase uma década de aprimoramento expressivo, caminha para um lento desaparecimento desde a popularização dos serviços de armazenamento em nuvem.
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A pressão mercadológica para inovar impulsiona a pesquisa e o desenvolvimento de novas soluções. Isso significa que as oportunidades podem surgir a toda hora, em campos diversos, mas também leva empresas a arremessar no mercado produtos mal acabados; ou ainda disfarçar de inovação um uma alteração mínima na composição do produto. Assim, o consumidor acaba se frustrando e, em pouco tempo, desenvolve uma desconfiança generalizada, e muito justificada, em relação às promessas inovadoras que pipocam por aí. Uma ideia nova, por mais disruptiva que seja, corre o risco de ser recebida por muitos com indiferença, diluída numa infinidade de “coisas inéditas e imperdíveis”.
Este surto de inovação (real ou apenas aparente) leva a essa banalização do ineditismo. Tudo isso é agravado por campanhas de comunicação agressivas, o que muitas vezes acaba gerando uma expectativa desmedida diante de inovações meramente cosméticas, que empurram para o segundo ou terceiro plano propostas mais relevantes.
Museus de grandes novidades.
O ciclo de renovação intensa também traz uma vida útil breve para muitas coisas, desde hábitos até as aparatos. Um grande número de produtos e tecnologias ganham muito destaque no momento de seu lançamento, mas rapidamente caem na obsolescência absoluta (Google Glass, TV 3D e pizza no McDonald’s, para citar só alguns exemplos).
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São produtos cujo conceito não estava necessariamente equivocado, mas que chegaram ao mercado em um momento inapropriado. Seja por antecipação ou atraso, não alcançaram a relevância prometida entre os consumidores, nem o rendimento esperado pelos produtores.
Se inovar já não era novidade no tempo da pedra lascada, hoje em dia está claro que ela é cada vez mais uma necessidade e menos um diferencial. Diante disso, é fundamental desmistificar a inovação e trazer para o campo da prática um conceito que está muito disseminado no discurso das empresas, mas não necessariamente na sua atuação.
O exercício de identificar os traços de um processo de transformação, estudar os fatos do passado e prever suas consequências para o futuro não é simples, mas é fundamental para andar com firmeza e evitar as armadilhas no caminho da inovação.