Hackear negócios significa desafiar modelos, padrões e paradigmas da cultura vigente o que pode ser feito a partir do design estratégico e inovação. Para tanto, é preciso que as companhias tenham no comando profissionais de personalidade movidos por propósito transformador na sociedade.
Somado a esse perfil empreendedor é preciso um alto grau de experimentação com tecnologias emergentes, com a prática de modelos de negócio não convencionais e com o financiamento a partir de venture capital (investimento de risco).
No mundo, cresce o número de empreendedores que se lançam na sociedade com conceitos, projetos e empreendimentos originais de impacto. Isso se deve ao aprendizado que surge com o fenômeno das empresas nascentes de tecnologia: as startups.
Neste post você confere como a sua empresa pode trabalhar estes conceitos para se destacar no mercado, colocando tal estratégia em prática para capitanear melhores oportunidades.
Origem da cultura hacker
O termo hackear é inspirado no movimento hacker que surgiu no final da década de 1960 e esteve originalmente associado à programação de software.
Jovens descobriram via código (linguagem de computação) maneiras criativas de elaborar e modificar programas de softwares e hardwares de computadores, seja desenvolvendo funcionalidades novas, seja adaptando as antigas.
Enquanto o hacker de programação operava com softwares e hardwares nas décadas de 1970 e 1980, a internet nos anos 1990 surge como ambiente livre por excelência, ainda que governos estejam seriamente se esforçando para regulamentar os direitos e deveres na/da era digital, o que nos leva a um dos pontos críticos do design estratégico e inovação.
Desafios para o design estratégico e inovação
Hackear negócios demanda antecipar futuros. Essas possibilidades de cenários enfrentam a resistência da sociedade, dos governos e das lideranças políticas, sociais e empresariais que não vão entender, mas resistir, temer, negligenciar e até boicotar a mudança.
A dinamicidade, irracionalidade e as questões morais e éticas trazidas pelo novo não são possíveis de serem previstas e, devido a isso, é imprescindível provar, comprovar e aprovar as ideias por meio da experimentação. Pensar o futuro é diferente de tentar prevê-lo, por isso é determinante colocar as perspectivas em trabalho a prova.
Dado o cenário, o grande desafio para quem empreende é acelerar o grau de aceitação do novo pela sociedade — uma questão de adesão — e fazer com que o novo seja entregue conforme prometido — uma questão de capacidade e infraestrutura disponível.
Na essência empreender de maneira disruptiva ou praticar o design estratégico é uma forma de crítica social. A intenção de antecipar futuros carrega em si a rejeição do status quo, uma oposição implícita às realidades que já não servem mais aos olhos e vontades de quem projeta e empreende.
Tendo em vista o sucesso e criação de novas e melhores soluções para a sociedade, vamos explorar três operadores cognitivos, ou seja, maneiras de pensar e agir de empreendedores como Jeff Bezos (Amazon), Richard Branson (Virgin Group), Elon Musk (Tesla), e Jack Ma (Alibaba): obliquidade e exaptação, mentalidade global e desobediência responsável.
Obliquidade e Exaptação
Os experimentos do design estratégico são mais bem realizados de maneira indireta. A intervenção direta gera resistência, confronto e enfraquece o experimento, já que a solução procura resolver o problema de forma pragmática, atingindo diretamente os stakeholders envolvidos. Já a obliquidade e a exaptação, como veremos a seguir, vão esmorecendo pouco a pouco os pilares que sustentam os modelos resistentes ao tempo.
A solução oblíqua procura resolver o problema de forma sutil, indireta e trabalhando nos meios para atingir o objetivo. Muitas organizações que querem impulsionar a inovação investem em ambientes que estimulam a criatividade e a experimentação.
Já a exaptação constrói um novo modelo de experimentação que possa ser desenvolvido de maneira independente mas conectado ao antigo modelo. No caso do impulso à inovação, vale destacar os modelos SkunkWorks que têm equipes separadas com desafio, orçamento e prazo para cumprir, mas ausência total de restrições para inovar, ou os Innovation Labs separados das empresas (tipo Google X Lab) que têm características similares.
Numa organização é o hackeamento de políticas, processos, sistemas e orçamentos que possibilita viabilizar técnica, comercial e legalmente um determinado novo projeto.
Um diretor de marketing de uma multinacional atuando no Brasil, conhecendo que a cultura de sua empresa é avessa a expressões como mudança, transformação e inovação, há cinco anos destina 25% do orçamento para projetos de inovação sem nunca ter sequer mencionado a palavra inovação em seus projetos — ele simplesmente executa projetos inovadores como se fossem projetos de marketing. Em casos como esse é mais fácil pedir desculpas do que licença.
Mentalidade Global
Mentalidade (global mindset) é um atributo individual que compõe a inteligência de empreendedores, equipes e organizações para identificar e explorar oportunidades e influenciar o surgimento e crescimento de negócios globais.
Essa mentalidade tem permitido a articulação de ideias, tecnologias, pessoas e recursos humanos sem fronteiras — estamos falando de especialistas, centros de pesquisa, incubadoras, aceleradoras e empresas ou fundos de venture capital.
Além disso, por não limitar a atuação numa cidade, região ou apenas em um país, mas em diferentes culturas e regiões, tem a possibilidade de ocupar espaços e culturas mais abertas à experimentação ou menos restritivas do ponto de vista regulatório.
Desobediência responsável
Estudos recentes no campo da psicologia social indicam que alguma dose de desobediência à autoridade, normas e regras preestabelecidas é fundamental na continuidade dos grupos sociais. A desobediência aliada com propósitos transformadores e projetos que efetivamente mudam o status quo são os verdadeiros motores da inovação.
A primeira câmera digital (projeto nascido na Kodak de 1972) e um projeto de MP3 (Philips) são exemplos emblemáticos neste sentido. Ideias que foram rejeitados por motivos de incompatibilidade estratégica, restrição orçamentária ou simplesmente resistência organizacional.
Toda ação sempre recebe uma reação negativa. A sociedade nunca foi e nunca será homogênea, e sempre será pautada por movimentos de experimentação que provocam contratendências na forma de polêmicas e controvérsias, além de debates com opiniões opostas, que devem acontecer ao invés de apenas engavetar ideias, sem ter realmente comprovado se são boas ou ruins.